quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

POLÍTICOS SEDENTOS PELO PODER !













































O PODER E A GAVETA DO CAIXÃO
 Diante da transitoriedade da vida – já que mesmo os “poderosos” estão aqui de passagem – de que vale a estressante, desleal e ferrenha luta que alguns travam pelo poder? Que dividendos isso vai render no final do jogo? Por FLORIANO SERRA Não foi à toa que um dia Einstein disse: - "Eu só conheço duas coisas infinitas: o Universo e a ignorância humana. No entanto, ainda tenho dúvidas se o Universo é infinito” . Não sei exatamente a que (ou a quem) ele se referia na ocasião, mas sua afirmação faz muito sentido quando pensamos no exagerado apego que certas pessoas têm ao poder. Sempre achei que, dentre as inúmeras manifestações de ignorância do Homem, o apego ao poder é uma das mais representativas – porque, em última instância, é dele que advém a violência, a corrupção, a arrogância, as ditaduras e, por fim, os conflitos e as guerras. Que o poder corrompe, isso ninguém duvida. Que o poder é afrodisíaco, tenho minhas dúvidas, mas já houve famosos que afirmaram isso. Bertrand Russel, no seu livro "O Poder - uma nova análise social", afirma que os principais desejos do homem são os de poder e de glória. "Em nenhum outro aspecto da existência humana a vaidade está exposta a tanto risco" – reforça o economista americano John Kenneth Galbraith. O fato é que o poder tem um enorme potencial transformador de caráter e de personalidades. É ainda revelador da alma, como descobriu Abraham Lincoln quando disse que "quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder". Quem, nas empresas, já não viu ou conheceu pessoas pacíficas, alegres e bondosas transformarem-se de repente em tiranos e durões, tão logo é anunciada sua promoção a chefe, gerente ou diretor? Claro, estes são casos de pessoas com recalques e inseguranças reprimidas que adquirem “coragem” de mostrar a verdadeira face, tão logo tenham em mãos um instrumento formal de “poder” – ou seja, a circular de promoção. Mas há também os “mandões” crônicos ou de nascença. Estes, independem do cargo para mostrar a face arrogante do poder: podem ser mensageiros, auxiliares, secretárias ou presidentes. “Tá no sangue”, como se diz na gíria. Para estes, de pouca valia têm as palestras, cursos, seminários e mesmo a psicoterapia. Só a própria vida é capaz de fazê-los mudar de postura – mas este é um longo e complicado processo que não cabe discorrer aqui. O que quero questionar é: de que serve tanto “poder”? Diante da transitoriedade da vida – já que mesmo os “poderosos” estão aqui de passagem e não há poder na Terra que mude isso – de que vale a estressante, desleal e ferrenha luta que alguns travam pelo poder? Que dividendos isso vai render no final do jogo? Outro dia, durante um jantar com amigos, justamente quando falávamos sobre essa questão, ouvi o comentário que inspirou este artigo: “Desta vida não se leva nada, pois caixão não tem gaveta! Então, pra que esse apego todo ao poder?” Detalhe importante: esse comentário partiu de um dos mais simples e humildes presidentes de empresa que já conheci – apesar de vencedor e líder natural na sua organização. É um sujeito que lidera com o coração e sobre o qual, justamente pela sua extraordinária capacidade de vencer pelo afeto, pretendo um dia escrever um livro. O que me causa espécie é perceber que os que usam o poder de forma indevida, não atinam para o enorme bem que poderiam fazer com esse mesmo poder. Afinal, o mesmo poder que aprisiona, é o mesmo que pode libertar. O mesmo poder que proíbe, é o mesmo que pode permitir. O mesmo poder que agride, é o mesmo que pode afagar. O mesmo poder que insulta e falta com o respeito ao próximo, é o mesmo que pode elogiar e dignificar o outro. Enfim, o mesmo poder que provoca lágrimas e tristezas, é o mesmo poder que tem a capacidade de gerar sorrisos e felicidade. Tudo é só uma questão de escolha pessoal. No seu novo livro “Tipos de Poder”, James Hillman afirma que “é possível exercer o poder de maneira “empresarialmente eficaz, psicologicamente curativa e pessoalmente gratificante”. Ele está certo. Há um poder positivo. Nem quero dar como exemplo o poder de Deus, vamos manter a questão aqui mesmo na Terra. Tenho absoluta convicção de que é possível o exercício de um poder magnânimo, bondoso, libertador - mesmo na mais competitiva das empresas. Afinal, o lucro não é gerado pelo poder do líder, mas pela motivação e ação dos liderados. O que define o poder de um executivo não é necessariamente sua capacidade de controle sobre a equipe, não é seu cargo, tampouco sua autoridade. O poder de um executivo pode ser reconhecido, avaliado e medido pela quantidade de justiça de que é capaz de praticar, pela sua capacidade de promover a auto-estima em cada membro da equipe e pela felicidade de que é capaz de impregnar a organização - e ainda assim conseguir levá-la à condição de vencedora. Sem essa visão positiva do poder, vamos continuar a conviver com “super-homens”, que, supondo a existência de gavetas no leito de repouso final, passam a vida acumulando “poderes” e com eles ditando ordens e afetando vidas sem nenhum critério e justiça, exceto aqueles ditados pelas suas próprias vaidades e egoísmos. Esta postura foi a que certamente levou um dia o poeta português Fernando Pessoa (Álvaro de Campos) a escrever seu “Poema em Linha Reta”, do qual, usando e abusando da liberdade poética, faço aqui um resumo: “Nunca conheci quem tivesse levado porrada.Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.Toda a gente que eu conheço e que fala comigoNunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida.Quem me dera ouvir de alguém a voz humana...Arre, estou farto de semi-deuses!Onde é que há gente no mundo?”